acasadana

segunda-feira, janeiro 26, 2009

«Deve-se estar sempre bêbedo, nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do tempo que esmagou os vossos ombros e nos faz prender para Terra, deveis embeberdar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude. E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais, já diminuída ou desaparecida a bebedeira, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que roda, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio vos responderão; «são horas de vos embebedardes! Para não serdes os escravos martirizados do tempo, embebedai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.»

Baudelaire, Petits-Poémes en Prose, 1869